quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sobre o Nissan Leaf como taxi


Eu costumo dizer que um repórter deve conhecer bem aquilo de que está falando. Não basta ter vastos conhecimentos rasos, só para impressionar leigos, porque logo aparece um conhecedor do assunto para apontar falhas crassas. Eu não ganho um centavo para informar, pelo contrário, tenho é despesas para isso, e mesmo assim percebo que tenho mais conteúdo relevante do que o grosso da imprensa "especializada".

O caso aqui é o do Nissan Leaf, que começou a ser usado como táxi em São Paulo. De início duas unidades, ás quais se juntarão oito até o ano que vem. Como Brasília está enrolando demais, com a boa vontade de um Jeca Tatú cansado, os planos de ter uma frota de Leafs servindo a prefeitura fica para mais tarde. Para compensar os cerca de duzentos mil reais cobrados pelo carro, um terço só de IPI, as empresas ganham um baita desconto na concessão da licença, que é bem cara. Os cassos entregues às empresas estão em regime de comodato, tocando às mesmas os parcos custos operacionais e de manutenção.

A primeira lorota, é quanto à recarga. O manual de qualquer bateria íon de lítio recomenda deixá-las por vinte e uma horas, para a primeira carga. Só para a primeira, que no caso dos carros, muitas vezes é feita pela própria fábrica... Já pensou, comprar um carro novinho e sair empurrando até o próximo posto de combustível? Em São Paulo, que tem 110V de padrão, pode-se levar treze horas em tomada comum, não mais do que isso se tudo estiver em ordem, e as baterias totalmente descarregadas. Em tomadas de 220V, a recarga total pode ser feita em seis horas, nas condições mais favoráveis e as baterias totalmente descarregadas. Carregadores rápidos, de 440V, serão fornecidos para cargas de meia hora, que darão 80% da capacidade, se as baterias estiverem secas, o que só acontece se o motorista quiser. Sim, há pessoas que usam tomadas tripolares comuns, sem relatarem prejuízos, pleo contrário, só dispensam mais cuidados com a recarga.

Ao contrário do que as reportagens deixam parecer, recargas menores podem e devem ser feitas a qualquer momento, quando o carro estiver esperando uma chamada, isso até aumenta a vida útil das baterias e reduz drasticamente o tempo de completar a carga. Com menos energia entrando de forma agressiva nas baterias, um efeito colateral ainda insoluto nas recargas, mais as placas são preservadas e por mais anos elas agüentam o tranco.

A segunda lorota é a da autonomia, que faz o público pensar que ficará na rua, no meio de um congestionamento, bastando que se ligue o ar-condicionado. Os 160km de autonomia padrão do Leaf são dados em condições européias de medição, em velocidades geralmente maiores do que as nossas permitidas. Na prática, em uma boa estrada, ele pode rodar 200km sem recarga. Em uma estrada ruim, pode passar de 300km.

Mas, heim? Explico; Ao contrário do motor a combustão, o eléctrico dispensa trocas constantes de marchas, além de contar com torque máximo em qualquer rotação. Em uma estrada ruim, triste regra entre nós, a velocidade é bem mais baixa, conseqüentemente consumindo menos dos 24kWh das baterias. Isto vale para congestionamento, que em suas baixíssimas velocidades, podem permitir que o motor mal belisque a carga, enuanto os à combustão torram a sua no anda-e-pára. E quando estiver engarrafado, aí é que a vantagem maior aparece, porque ele não consome absolutamente nada, nem um watt de potência. Parado, o motor eléctrico está desligado, sempre. Isto, aliás, é parte do segredo do consumo baixíssimo dos híbridos plenos, aqueles em que o módulo eléctrico tem uma potência razoável e trabalha junto com o motor à combustão o tempo inteiro. Daí um híbrido comum poder passar de 30km/l, enquanto um turbo-diesel sofisticado passa dos 50km/l. Enquanto um motor à combustão, um turbo-diesel de última geração, sua pra manter 40% de eficiência energética, um eléctrico ruim passa fácil de 80%.

Some-se a isso algo que o motor à combustão não permite, mas qualquer eléctrico decente faz com os pés nas costas: regeneração. Os eléctricos permitem serem transformados em geradores, quando o carro está sendo empurrado, mandando um pouco de carga par as baterias, como faz o Fusion Hybrid. Quem vai empurrar o carro? A inércia e a gravidade, oras! Durante a frenagem, ou em um bom declive, até a energia cinética acabar, o motor é invertido e manda electricidade para as baterias. Simples assim. Fumaça não volta a ser combustível, não mo mesmo motor, lamento.

Ei, que caras são essas? Estão se perguntando quem sou eu, para questionar a poderosa e onisciente imprensa? Eu sou alguém que lê e estuda, que tem contacto com engenheiros, com técnicos, que abre websites das montadoras, que lê elogios e reclamações de proprietários, que investiga aquilo do que vai tratar. O que eu disso acima acontece diariamente no mundo, com os mais de três milhões de carros eléctricos (fora caminhões, motocicletas, aviões e outros) que rodam fora deste país de quinto mundo. Esses carros avisam quando a carga da bateria está baixa, e avisam insistentemente, várias vezes. Os usuários do saudoso Gurgel E-400 sabiam da parca autonomia de 81km a 70km/h, mas na prática, com pequenas recargas durante estacionamentos, muitos rodavam o dia todo sem medo. E hoje os recursos são muito mais sofisticados. No Brasil, a autonomia de um eléctrico pode ser maior do que a divulgada em seu país de origem, simplesmente porque ele não tem que queimar gasolina ruim por aqui, electricidade é igual em qualquer parte do universo, a gerada nos Estados Unidos age igual à gerada aqui.

E por que eu estou dizendo isto a vocês, leitores habituais? Para que tenham como tranqüilizar os amigos. Ontem, uma amiga me questionou sobre o Leaf ficar sem bateria por manter o motor ligado em um congestionamento, ou por causa do anda-e-pára, enfim, foi ontem à noite que percebi o que repórteres desinformados podem fazer à cabeça dos leigos. Façam um favor a este amigo, espalhem também que ele não dá choque quando chove... vai que um desses "jornalistas" mandou mais lorotas por aí.

Oa repórtes, com poucas salvações como os do "Vrum", eram tão desinformados, ou de má vontade, que sequer mencionaram a possibilidade de o Gol de Elifas Gurgel poder servir de padrão para a conversão dos táxis já existentes. Eles sequer aventaram a possibilidade corriqueira de uma conversão! E olha que eles ganham para informar!




Website do feioso e simpático cabeça-de-bagre Leaf, clicar aqui.

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